Enganaram-se os que acreditavam ser possível tapear a combativa juventude chilena com a instauração de uma comissão ou mesas governamentais e empresariais de "enrolação". Quatro meses depois das multitudinais manifestações contra a Lei de Educação criada por Pinochet (Lei Orgânica Constitucional de Ensino, LOCE) e mantida pelos Governos da Concertación, como o presidido por Michelle Bachelet (PS), que não atendeu a nenhuma das reivindicações estudantis, os pingüins (estudantes com fardas escolares que lembram a ave polar) tomam novamente as ruas de Santiago.

Conforme mostram informes da imprensa, os [estudantes] secundaristas já avançaram das demandas económicas até assuntos de fundo da Educação e do modelo, pela anulação da LOCE e da municipalização, ou seja, a exigência de uma Educação que volte para as mãos do Estado (fonte: «Secundários golpeiam a mesa», no Liberación - Libertad Ahora), o que contrapõe frontalmente a juventude aos donos da Educação chilena alimentados pelo Governo socialista. Em suas palavras, avançaram da agenda curta (passe escolar, uniforme, alimentação) para a agenda longa (transformações profundas no sistema de ensino).

Como se não bastasse a lei da ditadura chilena [a LOCE], há três meses [a Presidente Michelle] Bachelet nomeou como Ministro do Interior o odiado Belisario Velasco, criador da Oficina, órgão que perseguiu organizações de esquerda que estiveram na luta contra a ditadura. Logo após assumir o posto, [o Ministro do Interior, Belisario Velasco] criou uma comissão de espionagem com membros da polícia e do Governo, responsável pela prisão de vários jovens activistas acusados cinicamente de subversivos, seguindo a sua linha clássica de antecipar-se aos conflitos. O Governo da Concertación de [Michelle] Bachelet repete, portanto, os mesmos métodos utilizados pelos herdeiros dos gorilas golpistas, orientados por uma caça às bruxas para condenar os lutadores.

A palavra central do movimento agora é «Derrotar a LOCE do capitalismo, criar uma nova Educação» (fonte: idem). Todavia, é preciso avançar das mobilizações e desconfiança no actual Governo e das demandas localizadas na Educação para a certeza de que nada vai mudar fundamentalmente na Educação, nem em nada na vida dos filhos dos trabalhadores sem o derrube revolucionário do Governo de Bachelet e a instauração de um Governo operário e camponês. Para isto, os estudantes deverão perceber que é necessário estreitar os laços com os trabalhadores, conquistar a população que nutre simpatias profundas pelo movimento [estudantil] (pesquisas indicam que 83% da população [chilena] está com os estudantes e contra o Governo) para um apoio activo na mobilização e nos protestos de rua, com a conformação de uma aliança operário-estudantil.
Neste sentido, apesar da pouca idade eles [estudantes do Secundário] já começam a entender muito bem como as coisas funcionam, como revela um dos delegados da ANES: «se existe uma má Educação é porque a sociedade também apresenta deficiências. Se quisermos mudar a Educação é porque queremos mudar a sociedade. Por isso é que estamos estabelecendo laços, trabalho e actividades em conjunto com professores, populares, universitários, trabalhadores, deixando de lado as cúpulas políticas e o reformismo que alguns defendem» (fonte: idem). Mas, para ir mais além, é preciso construir um autêntico partido revolucionário para lutar contra as concepções burguesas e reformistas do PS [Partido Socialista Chileno] e PC [Partido Comunista Chileno]. O descrédito em relação aos traidores dos trabalhadores e da juventude proletária, não pode tornar-se a negação do partido revolucionário.
Fonte: Indymedia Chile.
1 comentário:
Para melhor se compreender a situação de grande mobilização contestatária estudantil a ocorrer no Chile, de uma forma bastante mais ampla e muito para além dos clichés políticos (de substrato duvidável) expressos neste "post", aconselho a leitura de «A REBELIÃO DOS PINGÜINS, UMA ENTREVISTA ESPECIAL COM OSCAR DÁVILA», pesquisador na ONG Centro de Estudos Sociais - CIDPA, de Valparaíso, no Chile.
Muito mais informação disponível na «Revista Electrónica Latinoamericana de Estudios sobre Juventud», coordenada pelo entrevistado acima citado, nomeadamente a sua edição de Junho: «LOS ESTUDIANTES SECUNDARIOS DE CHILE, cuando los jóvenes se manifiestan...» [também disponível em pdf].
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