terça-feira, outubro 10, 2006

Artur Santos Silva: “Não podemos ter Universidades a fazer/ter cursos que o mercado não quer”

Ganhar dinheiro
O director do IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto) deixou um desabafo de que estava a haver uma estimulação de privatização [do ensino/conhecimento]. “Não somos [as instituições de Ensino Superior] competentes para coisas como ganhar dinheiro”, acrescentando que as instituições estão “assustadas”. Sobrinho Simões [director do IPATIMUP] alertou: “Os parceiros público-privados é que têm de nos dar valor acrescentado”.
Que papel têm as empresas no contexto do Ensino Superior e de que forma podem as Universidades inserir no mercado os quadros qualificados que formam? O debate na X Conferência do Equinócio do IPATIMUP lançou ideias e não se escusou à crítica.
Não podemos ter Universidades a fazer cursos que o mercado não quer”. A conclusão do banqueiro Artur Santos Silva, interveniente no debate de ontem, é de senso-comum, mas este vai mais longe na apreciação, frisando mesmo que “o diálogo eficaz em Portugal entre a Universidade e a empresa é inexistente”. Ao mesmo tempo lamentou que as instituições de Ensino Superior não sejam mais pro-activas: “Está tudo acomodado e ninguém se mexe. A Universidade do Porto não dá um passo, não assume publicamente um projecto. Sem um outro governo nas Universidades, não acredito que vamos lá”. Aproveitando deixas lançadas pela assistência, Santos Silva rejeitou ainda a ideia de que os bancos não incentivam o financiamento de projectos, porque, argumentou, “quase todos [os bancos] têm unidades especializadas para avaliar capitais de risco, mas quem tem ideias de criar uma empresa em geral não tem um plano de negócios para apresentar”.
O ex-Presidente da República [Jorge Sampaio] manifestou-se também crítico sobre as relações Universidade-empresa, defendendo que apesar desta ligação ser tão “significativa, em Portugal é zero”. “A atitude geral prevalecente é a de que a ciência é para os cientistas e que as empresas é que se devem preocupar com a tecnologia”, deplorou, considerando que “não pode a empresa alhear-se da realidade social que, na prática, tão decisivamente condiciona”. Sampaio sublinhou que é “indispensável a sinergia entre o Estado e as empresas para fomentar a investigação, a ciência, a inovação e o desenvolvimento tecnológico”. Evocando a Estratégia de Lisboa que defende [o investimento de] três por cento do PIB para a ciência, dos quais dois por cento deveriam ser privados, realçou que “os nossos números infelizmente não são estes” e, por isso, importava que “o público e o privado se concentrassem sobre a absorção de jovens cientistas, uma mais valia”. “É necessário mais informação sobre processos de integração e mais estímulos e cooperação público/privado”, notou [Jorge Sampaio], apelando à utilidade de uma “saudável agitação” entre estes sectores. O empreendedorismo não aparece desligado de todo este debate e, nesse sentido, o ex-chefe de Estado considerou que “não conseguimos ter um sector empresarial francamente activo na criação de postos de trabalho porque não somos empreendedores” e isto é um “défice sério”.

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