O relatório de avaliação e recomendações da Rede Europeia para a Garantia de Qualidade no Ensino Superior (ENQA), foi apresentado na passada quarta-feira, em Lisboa, sob o olhar atento de Mariano Gago, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. As conclusões não sopraram de feição ao Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior (CNAVES), que em 2007 vai mesmo ser substituído por uma nova agência.
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Parco envolvimento estudantil
Frederico Beja, representante dos estudantes do ensino superior público e concordatário no Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas (CAFUP) – entidade que regulamenta o CNAVES – confirma a crítica à falta de autonomia deste órgão. «Num país pequeno, avaliarmo-nos a nós próprios levanta sempre conflitos de interesses», argumenta (nas recomendações, uma forma de o resolver seria a inclusão de mais peritos estrangeiros na agência). Outro ponto fraco é a «parca participação estudantil na avaliação». Porque quando as comissões internas visitavam as instituições e entrevistavam os alunos, «já o processo ia a meio». Frederico sugere a entrega de um parecer, nomeadamente da associação de estudantes, «logo, com a auto-avaliação da escola». O que julga já estar a ser considerado nas recomendações da ENQA relativamente à nova agência para a garantia de qualidade.
Nomeação gera controvérsia
Uma maior intervenção estudantil está acautelada no relatório, embora a forma sugerida de o fazer não seja consensual. O presidente da FAP mostrou-se insatisfeito com a escolha, pelo Governo, dos representantes estudantis a integrar o conselho consultivo da nova agência. Além da própria nomeação «fazer temer» sobre a neutralidade dos seleccionados, «a tradição no movimento associativo estudantil diz-nos que as associações de estudantes reconhecem legitimidade àqueles que elegem e não aos que são indicados pelo Executivo», explica. De qualquer maneira, tem esperança num maior envolvimento dos estudantes no futuro sistema de avaliação e acreditação. «Talvez possa eliminar alguma falta de consideração pelas nossas posições nessa área», avança. Contudo, o mais importante é que o ensino superior «dê o salto para corresponder àquelas que são as exigências a nível europeu».
Prognóstico optimista
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Daqui a 3 anos no máximo – a ENQA sugere 5 – Mariano Gago espera que o ensino superior esteja todo avaliado e com cursos acreditados pela referida agência. Para já, garante que «a qualidade internacional como referência vai ser completamente acatada pelo Governo». E sugere que lhe agrada «a criação de competência técnica da própria agência» [as recomendações prevêem, no mínimo, 25 pessoas habilitadas]. A nível de encargos, estima-se que implique pouco mais de 2 milhões de euros por ano aos cofres do Estado, menos um milhão do que anualmente foi gasto, durante uma década, com a estrutura e os conselhos de avaliação do CNAVES. Segundo o titular da pasta, os sistemas mais onerosos não são os mais eficientes. «Verifica-se mesmo uma relação inversa», assegura.
1 comentário:
O MU [jornal «Mundo Universitário»] ainda nos fornece alguns outros textos de apoio:
"Pontos fortes do CNAVES" [introduziu o conceito e processo de auto-avaliação no sistema de ensino superior português (o que se verificou especialmente no sector privado); o processo de avaliação esteve em consonância com práticas de garantia de qualidade internacionais, e em particular com as normas europeias; as instituições privadas reconheceram que a sua inclusão no CNAVES as ajudou a melhorar a sua reputação e credibilidade no sistema a que pertencem. Isto segundo o relatório do painel de avaliação da ENQA – Quality Assurance of Higher Education in Portugal («An Assessment of the Existing System and Recommendations for a Future System»)],
"Pontos fracos do CNAVES" [independência limitada: o facto de ser “dominado” pelas instituições de ensino superior, aliado a algum desinteresse do Governo, contribuíram para que as suas avaliações fossem consideradas pouco críticas; ineficiência operacional: estrutura altamente descentralizada e dependente, para a sua coordenação, de reuniões colectivas, provou ser dispendiosa e poderá ter contribuído para a inconsistência das avaliações feitas; pessoal mal preparado poderá ser outra causa; falta de peritos estrangeiros: Portugal é um país pequeno e muitas vezes avaliadores e avaliados conhecem-se, o que pode comprometer a objectividade e independência do resultado final (o CNAVES também não tinha mecanismos que lhe permitissem verificar as capacidades e competências dos seus avaliadores); ausência de acompanhamento após a apresentação das avaliações: produto da passividade do Governo e do fraco dinamismo do próprio CNAVES, que se poderia ter dirigido às instituições para discutir os resultados obtidos ou apurar quais as acções destas face às recomendações formuladas; o processo de avaliação, as publicações e os encontros com o CNAVES forneceram menos provas do que o esperado sobre o encorajamento, comunicação e implementação de melhores práticas na elaboração dos currículos, ensino, aprendizagem e garantia da qualidade nas instituições. Isto segundo o relatório do painel de avaliação da ENQA – Quality Assurance of Higher Education in Portugal («An Assessment of the Existing System and Recommendations for a Future System»)]
e "E o critério flexibilidade?" [Ângela Dionísio, representante de «uma pequena instituição de ensino superior privada» – Escola Superior de Actividades Imobiliárias – está «preocupada com o aspecto do diagnóstico» e expô-lo na sessão de perguntas que se seguiu à apresentação pública do relatório. A pedido do MU, voltou a reformular a sua questão. Concorda com a referência a um ensino superior nacional de grande complexidade, mas defende que «essa diversidade deveria ser reflectida na fórmula e metodologias de avaliação utilizadas». Em que pé fica o «critério flexibilidade», mediante o qual não seria exigido a todas as instituições que alcançassem os níveis mínimos «à mesma velocidade e da mesma forma»? Christian Thune, coordenador do painel de avaliação da ENQA, foi claramente apanhado de surpresa e preferiu não entrar em detalhes. «A resposta veio no sentido da concordância», disse Ângela Dionísio. Contudo, pensa que a Rede Europeia terá passado essa “batata quente” à agência para a garantia da qualidade, cuja actuação futura, relativamente ao CNAVES, «só poderá ser melhor», sublinhou.].
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