Os movimentos de discussão [do processo] de Bolonha – que são também os de contestação, de tal modo o Processo [de Bolonha] parece, aos olhos dos estudantes, enfermar de defeitos – são apenas grupos marginais aos poderes [dirigentes] das Academias e, por via disso, com pouca exposição e capacidade reivindicativa.
Todos os dias se ouvem aos estudantes queixas sobre a falta de informação [das reais implicações do processo de Bolonha]. A “culpa” não é exclusiva das Associações Académicas – os departamentos, direcções de cursos e escolas andam também eles “à nora” com as mudanças –, mas o facto é que os dirigentes [estudantis] – eleitos para representar os alunos – têm feito pouco para esclarecer os seus pares [sobre as reais implicações do processo de Bolonha].
E menos ainda para os defender das injustiças que [o processo de] Bolonha comete: as regras mudaram a meio do jogo. Há estudantes a ser enviados para o mercado [de trabalho] com formações deficientes em três anos, quando à entrada da Universidade tinham uma expectativa de aprendizagem a cinco anos. E ninguém sabe quanto terá de pagar [de propinas] pelos dois anos “a mais” no Ensino Superior – absolutamente obrigatórios em algumas áreas para uma entrada na vida activa.

A verdade é que a apatia da AAUM face a[o processo de] Bolonha é só o exemplo mais próximo da forma como os líderes associativos viraram as costas à luta estudantil e institucionalizaram as suas práticas. Palavras de ordem e manifestações deram lugar a petições e reuniões cordiais com governantes. Com fato e gravata, em vez de jeans ou trajes académicos.
Já não se lidera uma Academia por missão. Há, hoje, valores [individuais] mais altos que se levantam. A “Crise das Propinas” que em pleno Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, marcou a ascensão do movimento estudantil enquanto força social, marcou também a sua morte.
É verdade que durante cinco anos os estudantes tiveram um poder temível – com direito a repressão [policial] e tudo. Mas, finda a “crise”, alguns dos principais rostos da contestação [estudantil] entraram no “sistema” que [anteriormente] contestavam. Muitos deles ocuparam e ocupam lugar de relevo político – nos partidos e nos Governos – “para o outro lado da barricada”. Tornaram-se, pois, uma espécie de exemplo a seguir. Daí que os actuais dirigentes [estudantis] optem por não morder hoje as mãos que, esperam, lhes venham a dar de comer amanhã...
[Editorial de Samuel Silva, chefe de Redacção do portal «ComUM Online», nomeadamente chefe da secção de Sociedade.]
1 comentário:
Sem grandes surpresas (pelo menos para mim), rapidamente se teve [na imprensa] um exemplo prático do que se fala no editorial transcrito neste "post": os dirigentes estudantis do hoje [ou do ontem] serão [ou são] políticos (e governantes) dos partidos de Poder no amanhã [ou do hoje]...
Na edição do jornal «Mundo Universitário» desta semana, encontramos uma breve entrevista a Paulo Campos, actualmente secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e das Comunicações (do Governo PS de José Sócrates) e que foi presidente da Associação Académica de Lisboa (AAL) no início da década de 90 (ou seja, no "pico" da luta anti-propinas dos Governos de maioria absoluta de Cavaco).
A "pérola desta entrevista" do senhor ex-dirigente estudantil muito contestatário contra as propinas, hoje transvestido em pequeno auxiliar da governação: Ainda acredita nos mesmos ideais que o levaram a ir para a rua gritar «Não às propinas»? «Sabe que nós vamos evoluindo e, se calhar, a situação que hoje temos acaba por ser uma situação mais equilibrada.».
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