sexta-feira, dezembro 15, 2006

3 empregos nos primeiros 5 anos de trabalho...

Cerca de 60 por cento dos jovens que entram no mercado de trabalho têm vínculos laborais precários, passando, em média, por qua se três empregos nos primeiros cinco anos de actividade, revela um estudo da Universidade Católica.
O estudo Itinerários Profissionais Imprevisíveis e Formação ao Longo da Vida analisou os primeiros cinco anos de actividade profissional de 101 jovens, maioritariamente do distrito do Porto, que abandonaram o sistema de ensino em 1998 com diferentes níveis de escolaridade (9º ano, 12º ano e licenciatura).

De acordo com esta pesquisa, que vai ser apresentada sexta-feira [hoje], verifica-se uma elevada instabilidade e mobilidade profissional, assim como uma «transitoriedade e precariedade dos vínculos laborais, que abarca 58 por cento dos inquiridos».

«O processo de transição da escola para o mercado de trabalho é actualmente muito mais complexo do que há relativamente poucos anos atrás. É hoje um processo difícil, imprevisível, ziguezagueante e instável», explicou à agência Lusa Joaquim Azevedo, co-autor do estudo financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Revelador dessa instabilidade é o facto de os jovens terem, em média, 2,8 empregos nos primeiros anos de actividade profissional, um número que, paradoxalmente, aumenta entre os licenciados inquiridos, que chegam a mudar de posto de trabalho até oito vezes para melhorar a sua situação e o nível remuneratório.

Já os jovens que entram no mercado de trabalho com menos qualificações, nomeadamente com o 9º ano, têm um percurso profissional mais estável, obtendo muitas vezes uma colocação imediata e mudando de posto de trabalho com menos frequência.

«Curiosamente, a estabilidade está do lado dos que têm menos qualificações. Encontram um pequeno emprego local e acabam por se manter nos primeiros anos de actividade, não procurando melhorar a sua situação por incapacidade e também por falta de ambição, uma vez que têm baixas expectativas relativamente à possibilidade de progressão profissional», adiantou Joaquim Azevedo, investigador da Universidade Católica e ex-secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, entre 1992 e 1993.

O estudo concluiu ainda que continua a existir uma forte relação entre o meio socioeconómico e cultural dos jovens, os seus percursos escolares e o tipo de empregos que obtêm, salientando que «a escola continua a ser um instrumento de reprodução social, com grande dificuldade em deixar de vincar e naturalizar a sorte dos 'herdeiros'».

«Contrariamente à promessa da Modernidade, a escola têm enormes dificuldades em cumprir o seu papel de combate à desigualdade de oportunidades», acrescentou o investigador, sublinhando que os alunos de meios mais desfavorecidos têm percursos escolares mais fracos, abandonam o sistema de ensino mais prematuramente e acabam por arranjar empregos menos qualificados e remunerados, criando um ciclo que se repete.

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