segunda-feira, dezembro 11, 2006

«Senhor Ministro, não despedirei [qualquer docente por falta de financiamento do Estado]!!!»

Na sequência dos cortes orçamentais que o Ministério da Ciência e do Ensino Superior recentemente realizou, tem-se assistido a uma situação de pânico entre os docentes do Ensino Superior em geral e nas áreas da engenharia em particular.

O Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), uma das mais antigas instituições de ensino de engenharia do país, vê-se confrontado com uma situação em que, pela primeira vez, o financiamento não cobre os encargos associados aos rácios aconselhados para este domínio de conhecimento.

Compreendendo que se torna necessário caminhar no sentido de que as instituições se auto-financiem parcialmente junto do mercado, penso que não é através da instabilidade do corpo docente que isto se consegue. A estabilidade é, pelo contrário, a primeira premissa para que os docentes se dediquem a alcançar a excelência na profissão.

Naturalmente, não confundindo a estabilidade com o imobilismo, que deve ser sempre combatido, e, em especial, no que se refere ao Ensino Superior, onde o acompanhar dos progressos nos domínios de competências e do conhecimento deve ser contínuo.

Apesar dos eventuais contrato-programa que venham a ser realizados neste domínio, para recuperação do mesmo, e dos balões de oxigénio que venham a ser concedidos, venho por este meio informar a comunidade em geral e o Sr. Ministro em particular que não despedirei qualquer docente por falta de financiamento. Temos um número de docentes que, apesar da diminuição de alunos na área de engenharia em termos nacionais, não são excedentários, de acordo com os rácios padrão para a engenharia.

Tenho naturalmente exortado os meus colegas a procurarem fontes de financiamento alternativas e conduzido uma política de contenção nas novas contratações, mas não posso deixar de ter em consideração as necessidades reais do país, pois não há um só dia que passe sem que dêem entrada no ISEL solicitações, das mais variadas empresas de engenharia e de serviços no domínio das engenharias, procurando profissionais recém formados ou alunos em vias de conclusão. Muitas vezes estas solicitações recebem como resposta o não ser possível satisfazer os pedidos, por escassez de potenciais candidatos.

Não estarei a prestar um bom serviço ao país e ao domínio da engenharia (que se encontra numa fase de expansão em termos de mercado) se nada fizer, limitando-me a assistir a esta situação onde os estudantes que procuram a engenharia como futura profissão escasseiam, quiçá vítimas de uma falta de planeamento estruturante do tecido empresarial nacional.

Conhecemos o mercado de engenharia há 156 anos, e, mais importante do que isso, o mercado conhece bem o ISEL. Assim, percebem porque é que não pactuarei com políticas que, pervertendo a própria lógica económica, são de pouca visão. Por isso, estou certo que todas as outras instituições de engenharia concordarão com esta posição e se juntarão a nós neste processo de defesa do Ensino de Superior de Excelência.
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José Carlos Quadrado é presidente do Conselho Directivo do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL) e publicou o presente texto de opinião (inicialmente) no «Diário de Notícias» (de 30 de Novembro), tendo o mesmo sido (posteriormente) transcrito no sítio do SNESup (Sindicato Nacional do Ensino Superior).

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