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O relatório solicitado à European Network for Quality Assurance in Higher Education (ENQA) sobre o modelo de avaliação em vigor enquadra-se lógica e naturalmente neste sentimento partilhado. Mas, na sequência da sua recente divulgação, entende a Universidade de Coimbra dever pronunciar-se acerca dos resultados apresentados, e sobretudo da forma como foram tornados públicos.
Estranha-se, desde logo, o destaque que é agora dado a questões há muito conhecidas. Muito embora pouco cauteloso nos termos, tendo em consideração a moderação exigível a uma entidade à qual se pretende atribuir um papel central no novo processo de avaliação de qualidade pedagógica internacionalmente referenciado, o relatório apenas identifica as fragilidades e as virtudes que todos reconheciam no sistema, distribuindo as primeiras, salomonicamente, pelos diferentes intervenientes: as instituições de ensino superior, o CNAVES e o Governo.
Estranha-se, portanto, igualmente, que tenham sido (profusamente) referidos os aspectos negativos e liminarmente elididas todas as referências aos aspectos positivos de um processo que contribuiu para criar, em Portugal, uma cultura de auto-avaliação. De facto, só quem dele esteve de todo ausente pode ignorar a importância que revestiu, para cada curso, o confronto da instituição consigo própria, a ponderação e reflexão aberta, construtiva e dialogante dos vários corpos que nele se envolveram, indispensável momento de análise crítica num processo de autognose fundamental para induzir mudanças. Menorizar e anular o trabalho, sério e empenhado, de dezenas de equipas que emprestaram o seu saber e a sua experiência, acreditando num esforço colectivo de repensar o ensino superior, em liberdade e segundo um juízo criticamente lúcido, com vista a um aumento da qualidade dos modos de funcionamento pedagógico e científico das suas instituições, é incompreensível, injusto e inaceitável.
Por isso, a Universidade de Coimbra quer deixar uma palavra de apreço a todos os que, desde 1993 e nas diferentes Faculdades, se empenharam com zelo e dedicação no processo de auto--avaliação dos seus cursos: graças a eles foi possível levar a cabo uma tarefa - que agora se despreza - de detecção e análise minuciosa dos pontos fortes e fracos do ensino superior português, em radiografia cuidadosa de um corpo que, por ser e estar vivo, age, reage e se transforma. E uma palavra ainda, não apenas de reconhecimento, mas de incondicional gratidão pelo labor desinteressado, competente, sério e rigoroso - que agora se enxovalha - de todos os membros das Comissões de Avaliação Externa, que atentamente leram e ouviram as nossas escolas, que as enriqueceram com os seus pontos de vista e as suas sugestões e em muito contribuíram para o crescimento científico, pedagógico e humano das nossas instituições e de cada um de nós. Este reconhecimento é, obviamente, estendido a todos os membros do CNAVES.
Estranha-se ainda que seja tão fortemente imputada às instituições de ensino superior a ineficácia de um sistema político nacional. Refere o relatório a inconsequência de um processo longo e realizado em duas fases, e queixa-se o senhor ministro da incapacidade das instituições na execução das recomendações contidas nos relatórios das várias comissões de avaliação externa. Queixamo-nos nós da inércia dos sucessivos governos a quem competia dotar as universidades de meios e instrumentos para o cabal cumprimento das reformas apontadas. Porque, a par de recomendações de natureza pedagógica e científica - a que as instituições foram sensíveis e puderam responder, procurando corrigir ou atenuar as deficiências -, muitas outras, e ponderosas, decorriam da falta de condições logísticas que só o apoio da tutela poderia ajudar a remediar. Queixamo-nos nós da total omissão dos governos em todo o processo, da falta de coragem política para fazer escolhas, para promover e reforçar o que tem qualidade e para descontinuar o que manifestamente a não possui. Queixamo-nos do público e notório desinvestimento no ensino superior por parte de quem o tutela.
Montado o novo processo de avaliação pedagógica dos cursos, os seus resultados não serão melhores do que os que agora se criticam se o Governo mantiver a mesma atitude de alheamento e de desresponsabilidade. É sobretudo por aí que as coisas terão que mudar.
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Fernando Seabra Santos é reitor da Universidade de Coimbra.
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