quinta-feira, janeiro 04, 2007

GAMeets 2006: Endogamia e a [quase inexistente] mobilidade [docente] na Universidade portuguesa

A Universidade do Porto foi a que produziu, de 1970 a 2005, mais docentes doutorados em Portugal (1.338), seguida da Universidade Técnica de Lisboa (1.225) e da Universidade de Lisboa (1.095). Na cauda das Universidades públicas [na produção de docentes doutorados] encontra-se a da Madeira (34) e, nas [Universidades] privadas, a Portucalense (23), a Lusíada (17) e a Autónoma (7).

Os dados - embora provisórios por incluírem doutorados reformados e falecidos - foram [no passado dia 27 de Dezembro] revelados, por Teresa Lemos, do Observatório da Ciência e do Ensino Superior (OCES), na segunda edição dos "Gulbenkian Alumni Meetings" [GAMeets 2006], em Oeiras.

"Endogamia e mobilidade na Universidade portuguesa" foi o tema do debate sobre por que é Portugal o país da Europa com maior índice de endogamia, ou seja, de contratação de docentes da própria instituição em detrimento de candidatos externos - 91% face aos 88% da Espanha, muito longe do 1% da Alemanha.

Um inquérito realizado pela OCES a 3.800 doutorados mostra que, de 2000 a 2004, 43,7% ingressaram de imediato na instituição em que obtiveram o grau académico e, quatro anos depois, essa taxa era já de 57,5%.

Relatório decide salário [o exemplo da Carnegie Mellon]

Irene Fonseca deixou Portugal em 1981 rumo aos EUA, como bolseira da Gulbenkian, onde se doutorou em Matemática. Fez o pós-doutoramento em Paris e recruta agora os docentes para a Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, onde "um docente júnior com pós-doutoramento" leva nove anos até ser professor associado e nos primeiros seis tem a ajuda de um mentor para preparar projectos e relatórios.

Na palestra explicou que na sua Universidade [Carnegie Mellon] há avaliações escritas anuais - que são obrigatórias - para se saber como evoluiu o professor. E revelou algo que surpreendeu a plateia: "o meu salário depende da qualidade do meu relatório anual. Pode descer, subir ou ficar congelado".

Nada semelhante ao que se passa em Portugal ou Espanha, país onde, segundo ironizou o orador catalão Arcadi Navarro: "os docentes estão sentados 20 anos na cátedra e só de lá saem para irem de férias". Já que só 20% leccionaram fora do país.

Ex-ministro aponta saída

Marçal Grilo, antigo ministro da Educação do Governo socialista (1995-99), disse [no passado dia 27 de Dezembro] que "chegou o momento de mudar o sistema de governo das Universidades". "O Governo deu um sinal muito forte na semana anterior", referiu no segundo encontro de ex-alunos de doutoramentos do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras.

Considerando que existem agora condições para que a mudança ocorra, o antigo governante manifestou-se a favor do fim da eleição dos Reitores. Para acabar com a endogamia e a perpetuação de clãs nos departamentos.

"É preciso ganhar liderança e prestação de contas", as Universidades devem ter fontes de financiamento e gerar receitas próprias e é preciso mudar o critério da dotação estatal. Em vez do número de alunos ou de docentes, [deve] ser a qualidade dos projectos, defendeu o responsável pela Educação da Fundação Gulbenkian.

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