Parece que há quem não goste dos Professores. E queira fazer crer ao público que a culpa de tudo, desde o do déficit do Estado ao da Segurança Social, é afinal dos Professores, e, para mais, dos desempregados e dos que o possam vir a estar.
Depois de tantas notícias sobre as agressões a Professores nas nossas Escolas Secundárias, virão agora novas agressões? Para compensar a falta de protecção de uma classe humilhada e ofendida pela barbárie?
O argumento pode ser subtil, visando excitar a inveja e o desfavor gerais. Criando antipatia pela classe. Mas há que perguntar: inveja de quê? Haverá algo que mereça ser invejado na sorte dos Professores? Se eles, como Sebastião da Gama, se contentam com a infinda dádiva de ensinar, e até acham estranho serem pagos!
Onde está a dignidade docente? Somos muitos e não somos tolos. Porquê a nossa passividade? Deve ser o medo, medo do desemprego...
Curiosamente é por aí que agora estamos na berlinda.
Muita Comunicação Social não parece sensibilizada para o drama dos Professores, parecendo tomar as dores pela abstracção do Tesouro. Li, no [passado] dia 7 de Março, mais uma notícia que merece ser ponderada, e que termina assim:
"No ano passado, a Segurança Social gastou 55 milhões e 600 mil euros em subsídios de desemprego mas os professores contratados só contribuíram com 38 milhões. A diferença entre estas duas parcelas dá um saldo negativo de quase 18 milhões de euros.
O prejuízo surge numa altura em que o Governo até está a pensar alargar o subsídio de desemprego aos restantes funcionários com contrato administrativo.
Se a medida avançar, os professores do ensino superior também passam a ter protecção social mas o Estado pode vir acumular ainda mais prejuízos."
Será que devemos concluir que o subsídio de desemprego não foi feito para os desempregados? E que os descontos para a Segurança Social é que foram feitos para dar lucro ao Estado?
Se assim for...
Coitadinho do Estado que não serve para proteger esses malandros dos Professores contratados, que, como é público e notório, são contratados por pouco tempo por sua culpa, e descontam pouco porque querem ser despachados para o desemprego: situação regalada, porque são mesmo preguiçosos.
E nem por sombras pode o subsídio de desemprego ser reconhecido como um direito a esses madraços dos Professores do Ensino Superior. Direito de qualquer trabalhador? Quem disse que um Professor trabalha? Privilegiados, que labutam a vida inteira, com a carreira reconhecidamente mais complexa, exigente e longa de todas, públicas e privadas, que queimam as pestanas toda a vida, sem férias, nem domingos e feriados, que consomem em investigação e correcção de provas e teses, etc... tudo isto para auferirem salários em nada compatíveis com as suas habilitações. Estes nababos, depois de uma vida de dedicação - tendo feito, no limite, por junto, bacharelato, licenciatura, mestrado, doutoramento, e até agregação, escrito dezenas, centenas ou milhares de artigos e até dúzias de livros, registado patentes, realizados exposições, congressos, etc. (conforme as suas especialidades) - podem ser postos na rua... sem um tostão nem um obrigado.
E ficam, obviamente, com a vida destroçada.
Porque mandar para o desemprego um Professor universitário é, além de um desinvestimento criminoso para o País - um País que precisa de quem pense - um verdadeiro assassinato dos cérebros.
Quem, sabendo o que o espera na carreira académica agora (no meu tempo era impensável o desemprego de [professores] universitários: havia era falta), quererá optar por essa vida, vendo que terá muito mais por muito menos em alternativa: na iniciativa privada, ou até na burocracia do Estado?
Um docente que dedicou a vida ao sacerdócio do ensino, como é o caso normal dos docentes universitários, e que é decapitado na sua carreira, por uma decisão economicista ou uma facada nas costas, é alguém a que se rouba a vida, porque se rouba a esperança, e a crença na instituição que o animou.
Não sei o que acontecerá aos colegas. Receio o pior.
Mas espero que consigam dar a volta por cima. E o meu maior desejo é que triunfem na vida, provando que não é quem não sabe que ensina. É quem sabe melhor.
Por isso, inveja por inveja, façam inveja aos que ficarem, vencendo nas vossas novas vidas. E tendo finalmente as remunerações, o prestígio, e o tributo público que uma sociedade mesquinha e invejosa vos negou sempre.
___________________
Paulo Ferreira da Cunha é professor catedrático na Faculdade de Direito da Universidade do Porto [FDUP], sendo também director do Instituto Jurídico Interdisciplinar (IJI) da FDUP, tendo o seu presente artigo de opinião sido publicado n' «O Primeiro de Janeiro» do passado dia 8.
segunda-feira, março 19, 2007
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3 comentários:
porquê o Pnr?????
com tantos partidos que existem e vocês so poêm link para o BE, o PS e o PNR.
Estão a dar relevância demais a esse bando de nazis.
o parar bolonha não merece respeito, pelos critérios de selecção que utiliza talvez sejam Nazis também
Como o anónimo poderá reparar, os links que estão disponíveis para os partidos referem-se unicamente a publicações destes acerca do tema Ensino, nomeadamente do Processo de Bolonha.
À data da pesquisa feita para esta lista de links, apenas os referidos partidos dispunham (ou pelo menos de forma clara) de documentos acerca do assunto.
Se houver coisas a acrescentar, perfeito.
Mais, o Parar Bolonha está sempre aberto a novos colaboradores.
Abc.
Tenho que acrescentar, no entanto, que repugno desde há muito a existência do PNR e de outros movimentos que o suportam. Ainda assim, parece-me interessante analisar o raciocínio "anti-bolonha" que a extrema-direita nazi-fascista advoga.
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