Cada Comissão Executiva das empresas cotadas na Bolsa de Lisboa ganhou, em média, 3,5 milhões de euros em 2005, mais do dobro do que auferia (em média) no ano 2000.
Olhando apenas para as empresas do PSI-20, índice que agrupa as 20 maiores sociedades cotadas no mercado português, o aumento é superior: 3,2 vezes.
Números que impressionam num cenário de crescimento quase nulo da economia portuguesa — menos de um por cento ao ano —, de contenção salarial e de quebra do mercado de capitais, após a euforia de 1999-2000. Estes dados fazem parte de um extenso estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) sobre o Governo das Sociedades, feito em meados de 2006, com base num inquérito a 48 empresas, que foi divulgado [ontem] na íntegra. O regulador apresentou um conjunto de novas regras que tornará algumas das actuais recomendações obrigatórias, entre elas a publicação da remuneração individualizada dos membros dos órgãos de gestão.
As Comissões Executivas têm habitualmente entre cinco e sete elementos, o que indica que a remuneração média de cada administrador pode ultrapassar o meio milhão de euros.
Os salários milionários das administrações das empresas cotadas têm sido um tema de debate intenso na imprensa financeira internacional, onde se tem discutido se os gestores de topo se remuneram ou não de forma exagerada. E se os seus ganhos extraordinários reflectem o mérito da gestão e os resultados e desempenho das empresas ou são apenas benesses imerecidas.
O estudo revela também que o montante auferido pelos Conselhos de Administração (CA) ascende a 23,9 por cento do lucro, um valor elevado em termos internacionais. A percentagem é mais reduzida no sector financeiro (4,9 por cento) e nas empresas que integram o PSI-20 (9,9 por cento), do que nas sociedades da área não financeira (27,1 por cento) e das cotadas fora do índice de referência da praça lisboeta (36,7 por cento).
O sector financeiro é, de longe, quem melhor paga às Administrações: em 2005 a remuneração média dos CA foi 9,7 milhões de euros. No segmento não financeiro, os salários dos órgãos de cúpula são bem mais baixos: 2,4 milhões de euros, na prática quatro vezes menos que os seus pares da banca. As empresas do PSI-20 pagam melhor que as do PSI Geral — em 2005 remuneraram os CA com 5,6 milhões de euros. Já as empresas fora do PSI-20 pagaram "apenas" 1,5 milhões de euros. A remuneração fixa, revela o estudo, é maior nas empresas não financeiras e fora do PSI-20. Cada membro da Comissão Executiva recebe, em média, cinco vezes mais do que os elementos do corpo de alta Direcção das empresas.
A discrepância entre as remunerações dos gestores de topo e os trabalhadores comuns tem vindo a acentuar-se em Portugal. Enquanto a remuneração dos administradores das empresas do PSI-20 cresceu mais de 220 por cento entre 2000 e 2005, o aumento salarial no total da economia foi de 15,7 por cento. É igualmente abissal a diferença entre o que recebe um membro de um Conselho de Administração e o trabalhador médio português, cujo salário mensal bruto declarado à Segurança Social ascendeu, em 2005, a 620 euros (8.680 anuais), sessenta vezes menos que os administradores das empresas do PSI-20.
As reformas douradas dos CA também têm gerado polémica. O estudo mostra que as empresas contraíram, em 2005, responsabilidades de médio e longo prazo para os seus administradores num valor médio de 7,8 milhões de euros. O sector financeiro lidera, com benefícios de reforma para o CA de 26,3 milhões de euros. No conjunto das empresas do PSI-20, o valor médio desce para 16,3 milhões de euros e é de apenas 316 mil euros para as sociedades fora do índice de referência.
terça-feira, maio 08, 2007
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