Devido a uma longa greve, as universidades não vão conseguir organizar os habituais exames de fim do ano escolar.
Joana Silvestre, luso-descendente de 21 anos, estudante no 2.º ano de Língua Portuguesa e Literaturas Lusófonas, na secção Línguas Estrangeiras Aplicadas da Universidade de Paris-4 ( Sorbonne ), não esconde a ansiedade.
"Estamos sem aulas há 3 meses, não sei o que vai acontecer, já se diz que nem haverá exames e que toda a gente vai passar com a nota de 10 valores ou com exames simplificados", explica ao Expresso.
A greve dos estudantes, dos professores e dos investigadores franceses contra a lei da autonomia de gestão das Universidades francesas dura há 11 semanas, não há qualquer sinal que aponte para o fim do conflito e, a pouco tempo do fim do ano escolar, ninguém sabe o que vai acontecer.
Para tentar encontrar uma solução que concilie a contestação com os exames, começaram a realizar-se esta semana reuniões tripartidas entre associações estudantis, professores e administradores das universidades, mas as partes não se entendem. Todos têm apenas uma certeza: se forem organizados, os exames nas universidades francesas terão pouco valor e decorrerão num ambiente caótico.
As hipóteses em estudo vão da passagem administrativa (todos os estudantes passam de ano com 10 valores) à organização de provas ad-hoc simplificadas e improvisadas sobre programas diferentes de faculdade para faculdade, passando pelo adiamento dos exames para Setembro ou Outubro.
Os reitores, que por vezes têm sido sequestrados nas universidades pelos estudantes, recusam a primeira solução. "A passagem administrativa seria catastrófica para a imagem das universidades francesas e para a credibilidade dos nossos diplomas", afirma Yves Lecointe, Presidente da Universidade de Nantes .
Para não penalizarem demasiado os alunos, alguns professores grevistas - apelidados de "grevistas activos" - têm organizado aulas alternativas com piqueniques em jardins públicos, escadarias e cafés, em ambientes agitados parecidos com os de períodos revolucionários como os que a França viveu em Maio de 1968.
Os estudantes, os professores e investigadores franceses pedem ao Governo que retire a lei da "autonomia universitária", que transfere a avaliação dos professores bem como a gestão dos recursos, incluindo os humanos, do ministério para as direcções das universidades.
O Governo reafirmou esta semana que não cede e as universidades francesas continuam em ebulição. "Com a autonomia haverá ainda mais casos de diplomas falsificados como os que agora foram descobertos em certas faculdades", explica um jovem grevista.
Nos últimos dias soube-se que nos últimos cinco anos foram vendidos centenas - talvez milhares - de "canudos" falsificados em pelo menos cinco pólos universitários franceses.
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