A maioria das Universidades portuguesas não estão a cumprir os critérios de Bolonha. Os principais problemas são a falta de revisão dos currículos e dos métodos pedagógicos e a existência de cursos pouco virados para o mercado de trabalho. Problemas que os especialistas atribuem à pressa em aplicar a reforma, sem se ter levado a cabo uma discussão como a que está a ser feita em Espanha.
"O Processo de Bolonha foi uma oportunidade perdida para reformar a fundo o ensino superior." É deste modo que, três anos depois do arranque, Gonçalo Xufre, dirigente do Sindicato Nacional do Ensino Superior, classifica o modo como o processo que visa um espaço comum europeu para o ensino superior a partir de 2010 está a ser implementado em Portugal.
"A maioria das instituições faz uma interpretação cosmética daquilo que deve ser a reforma, limitando-se a encurtar a duração das licenciaturas, que agora é de três anos, sem cumprir o espírito de Bolonha", considera em declarações ao DN aquele professor do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL).
Uma opinião que é, de resto, partilhada por vários professores e gestores de instituições do ensino superior contactados pelo DN. Aponta-se, por exemplo, a ausência de alteração dos métodos pedagógicos, um pressuposto do compromisso europeu. Nos termos de Bolonha, o método de ensino deve ser menos centrado na transmissão dos conhecimentos do professor para os alunos, e mais para a orientação dos alunos a buscar informação e reflectir sobre ela. Alvo de críticas é também a " irregular" contabilização dos créditos, que devem ter em conta os trabalhos realizados. "Nada disso está a ser respeitado, e os critérios de rigor são muito baixos", acusa um professor da Universidade Autónoma de Lisboa.
O presidente do Instituto Politénicos de Leiria, Luciano de Almeida, reconhece alguns "maus exemplos" no sistema de ensino português, e embora atribua em primeiro lugar a responsabilidade às próprias instituições, observa que, se esses atropelos existem é um resultado de "estarmos há cinco anos sem uma avaliação nacional aos cursos e de continuarmos sem uma avaliação dos docentes".
Por outro lado, o presidente do politécnico de Leiria lamenta que o Governo "tenha avançado para a reforma do ensino superior, sem que antes tenha promovido um debate sobre qual a estratégia a seguir, tal como se fez em Espanha, em que primeiro se debateu a estratégia e só depois de adaptaram os cursos a Bolonha", o que só está a acontecer este ano. A rapidez com que as universidades portuguesas adoptaram Bolonha foi, segundo Gonçalo Xufre, resultado não de preparação, mas da pressa de não ficar para trás em relação a outras que se anteciparam.
Em Espanha, que chegou mais tarde ao processo, a orientação vai ao arrepio da tendência europeia. As universidades espanholas adoptaram as licenciaturas de quatro anos, em vez de três.