terça-feira, outubro 17, 2006

«As manifestações dos outros», editorial do MU

Observava com interesse a mega-manifestação da Função Pública, organizada pela Frente Comum [dos Sindicatos da Administração Pública] e pela CGTP que, na quinta-feira passada, dia 12 de Outubro, fez estremecer Lisboa. A maior [manifestação] desde 1982, quando Francisco Pinto Balsemão era primeiro-ministro de um Governo da AD –, de acordo com as declarações que um dirigente da CGTP ao «Diário de Notícias». Ao que parece, a política social promovida pelo Governo está a trazer a população à rua e para os dias 9 e 10 de Dezembro a Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública já garantiu novo protesto.

Observei com igual interesse a marcha de protesto que, no Dia Mundial do Professor, 5 de Outubro, reuniu em Lisboa mais de 20 mil docentes. E o facto de a Federação Nacional do Ensino e Investigação (FENEI) ter garantido paralisação geral para os próximos dias 17 e 18. Em causa, as negociações entre os 14 sindicatos de professores e o Ministério da Educação sobre a revisão do Estatuto da Carreira Docente.

Observo com atenção que a democracia ainda pode pulsar e que muitos tomam posição.

Ora, numa altura em que já se sabe que o Orçamento de Estado para 2007 prevê uma redução em cerca de 7 por cento para o Ensino Superior pergunto-me onde está a veia contestatária das instituições públicas que vão sofrer esta delapidação [orçamental]. Vamos às hipóteses. As sete instituições [de Ensino Superior] envolvidas no Programa MIT–Portugal estão demasiado concentradas em “fazer bonito”. E as restantes estão, talvez, demasiado absorvidas em planos pedagógicos internos para pôr [o processo de] Bolonha sobre rodas. Tem tudo que fazer. Percebe-se.

Vou ficar a observar com atenção a dinâmica estudantil. Agora que as semanas de recepção ao caloiro estão nos “finalmentes”, vai haver tempo para pensar “em coisas sérias”. Não, não se trata de impelir à revolta, mas de constatar que o Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior até tem tido vida fácil. Os estudantes ainda sabem fazer manifestações?

[Editorial de Raquel Louçã Silva, na edição da presente semana do jornal «Mundo Universitário» [MU].]

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