quarta-feira, março 28, 2007

Manifesto por uma Escola livre e sem racismo

O presente manifesto foi divulgado por um grupo de estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Esse mesmo grupo está também a organizar para o dia 29/03/2007 [amanhã, quinta-feira], às 15h30, no Bar da Esplanada da Faculdade de Letras, o debate "Viva quem muda sem ter medo do escuro" [versos da canção “O rei vai nu”, de Sérgio Godinho, que faz parte do álbum «Canto da boca» (1981)], com a participação de Eduarda Dionísio (antiga aluna da FLUL), José Mário Branco (músico, aluno da FLUL) e da Associação SOS Racismo.

A todos os estudantes, funcionários e professores [da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa]:
A Faculdade de Letras tem um passado de luta pela liberdade, contra a opressão, a discriminação e a ignorância que não pode ser esquecido. Desde a luta contra o fascismo em tempos de ditadura ao activo movimento estudantil por uma escola aberta a todos, a Faculdade marcou a sua presença. Ao longo da História, estudantes, professores e funcionários manifestaram-se contra as guerras, as desigualdades, o racismo, a xenofobia, o fechamento e a intolerância, existentes dentro e fora da escola.

A nossa Faculdade sempre soube olhar para fora, sempre soube que através do conhecimento se combatem os preconceitos mais obscuros e absurdos da nossa sociedade. A Faculdade de Letras é isso mesmo, a experiência do ensino, do conhecimento e da partilha da diversidade cultural, expressão da humanidade. É o espaço onde tem lugar o estudo das várias Línguas, das diversas Culturas, das Artes e das relações que mantêm entre si, da discussão, da crítica e do pensar, da análise da História, das pessoas e dos lugares. Aqui conquista-se o espaço para a diversidade e para um mundo mais justo, livre e consciente.

Não podemos, portanto, assistir passivamente às discriminações racistas e a tentativas de intimidação de que têm sido alvo estudantes dentro da Faculdade ou a folclóricas mas preocupantes manifestações neonazis como a que assistimos na passada quinta-feira, dia 15 de Março, dentro do nosso espaço escolar. Não podemos compactuar com ideais fascistas e discriminatórios, fechando os olhos às ameaças de violência e ao mal-estar vivido pelos nossos colegas no dia-a-dia da Faculdade. Só a ignorância, o conformismo, a passividade e o vazio cultural deixam espaço à intolerância e favorecem a cultura do medo e os novos obscurantismos.

A liberdade de expressão é inconciliável com a discriminação e a apologia da desigualdade. É por isso que este espaço, que é nosso e é de todos, foi, tem de ser e será um espaço de liberdade e respeito, desde os bares aos corredores, passando pelas salas de aula, centros de investigação e bibliotecas, bem como todos os lugares em que decorre a vida associativa, departamental e institucional desta Faculdade.

Todos nós, que estudamos e trabalhamos aqui e aqui vivemos e convivemos, mulheres e homens de diferentes idades, nacionalidades e cores, podemos e devemos tornar a Faculdade de Letras um lugar sem racismo e sem discriminação, um espaço realmente aberto a todos, onde todos possam estudar e trabalhar em liberdade.

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Para melhor contextualização da actual situação na FLUL, leiam-se a notícia da edição online do "Público": «Extrema-direita quer entrar nas [Associações de Estudantes das Escolas] Secundárias e Universidades», os comunicados da Associação SOS Racismo: «Skins tentam tornar Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa num “palco” para a difusão do racismo e da violência» e «Extrema-direita candidata-se à Direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras», as notícias do portal "Esquerda.net": «Director da Faculdade de Letras interrompe mural anti-fascista» e «Manifesto de estudantes de Letras denuncia discriminações racistas» e, por último, a notícia do "Correio da Manhã": «Skins vão às eleições [com] lista para Associação de Estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa».

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