Na sequência do que já se verifica em alguns países, Portugal abriu a possibilidade de as suas universidades se transformarem em fundações públicas com regime de direito privado. Jean-Marc Rapp diz que é uma solução adequada quando as regras da gestão pública são muito inflexíveis. O futuro líder da Associação Europeia de Universidades também considera que ninguém vai ficar “obcecado” com o lucro.
Em Portugal, as universidades já podem ser fundações. A Itália está a discutir igualmente uma solução neste sentido. O que é que as universidades ganham com esta opção?
Mais uma vez, é algo que depende da legislação de cada país. Ter uma forma privada de uma dada universidade não quer dizer que a instituição se está a tornar numa organização obcecada em fazer dinheiro. Permite é maior flexibilidade na gestão das universidades, particularmente nos casos em que as regras públicas implicam muitos constrangimentos. Em certos países, não é preciso abrir estas opções se as regras públicas permitirem a flexibilidade adequada. Nesses casos, não é preciso recorrer a outras formas jurídicas.
Em que países é que há essa menor flexibilidade?
Não é uma resposta fácil, porque há países que conseguem ser muito flexíveis numa determinada área da gestão pública, mas que depois são muito inflexíveis noutras áreas. Não é possível fazer uma leitura a preto-e-branco da situação.
Outra questão actual em Portugal, mas que é obviamente geral em toda a Europa, tem que ver com a empregabilidade dos alunos. Há empresas de áreas muito especializadas que se queixam da falta de mão-de-obra qualificada. Por outro lado, há níveis de desemprego alto entre licenciados de áreas como o Direito e a Gestão. As pessoas que o ensino superior está a formar são aquelas de que o mercado realmente precisa?
Não é possível encontrar sempre uma correspondência exacta entre as pessoas que saem do ensino superior e aquilo que o mercado procura. Mas também penso que a oferta do ensino superior não deve ser completamente determinada pelas necessidades actuais do mercado. As universidades estão constantemente a criar conhecimento e, em muitos casos, colocam licenciados no mercado que irão dar origem a novas profissões e áreas de mercado.
Mas concorda com a necessidade das universidades terem que estar atentas às necessidades actuais, certo?
Claro. Mas isso não deve implicar que toda a oferta seja desenhada só para o momento presente. Há as necessidades actuais, mas há também as futuras.
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