sábado, maio 26, 2007

«Novas [Universidades] Independentes nos esperam», artigo de opinião de Paulo Peixoto

Reza uma inaplicada Constituição da República que as Universidades gozam de autonomia em diversos planos, o que, no Ensino Superior particular e cooperativo, deveria ter expressão no princípio da separação entre a administração pelas entidades proprietárias e a direcção académica.

No Ensino [Superior] público a intervenção (e responsabilização) da entidade proprietária - o Estado - é praticamente inexistente, como o mostra a circunstância de o Instituto Politécnico de Beja ter deixado de pagar os vencimentos por inteiro a parte do seu pessoal docente e de a tutela virar a cara para nada ver, nada ouvir, nada dizer. No Ensino [Superior] particular, pelo contrário, a intervenção e a intimidade são excessivas, como o mostra a confusão entre sócios, administradores, Reitores e vice-Reitores que sempre existiu na Universidade Independente [UnI], e que leva a que a perda de idoneidade da entidade proprietária acarrete a perda de viabilidade do estabelecimento de ensino.

Primeira lição: é preciso avaliar a idoneidade das entidades proprietárias e acompanhar com regularidade o cumprimento das suas obrigações em relação às instituições de Ensino Superior particular.

A esforçada Direcção-Geral do Ensino Superior constitui impecáveis "dossiers" para instruir processos de reconhecimento da utilidade pública de novas instituições do Ensino Superior particular e processos de autorização de funcionamento dos próprios cursos mas só por ingenuidade pode acreditar que tudo vai funcionar como está no papel. E o facto é que a tutela, até agora, só parece mexer-se quando o irreparável já está nas páginas dos jornais.

Segunda lição: é preciso observar, e avaliar, com regularidade o funcionamento das instituições de Ensino Superior, quer das públicas quer das particulares, por forma a verificar se os pressupostos de qualidade se mantêm.

No Ensino [Superior] público e no Ensino [Superior] particular, as instituições devem ter corpos docentes estáveis e, consequentemente, responsáveis, o que sucede cada vez menos no [Ensino Superior] público e praticamente nunca sucedeu no [Ensino Superior] particular. Governos e Inspecções-Gerais fecham deliberadamente os olhos a contratos de aquisição de serviços e a "contratos de docência" que relevam de verdadeira ficção científica. É por isso que nos dias finais da [Universidade] Independente cada facção anunciou livremente o seu próprio corpo docente como se não existissem normas sobre celebração e cessação de contratos. É por isso que vimos no terreno a Inspectora-Geral e o Director-Geral do Ensino Superior, a confrontar os tais "dossiers" impecavelmente organizados sobre a UnI com os escombros da instituição, mas não o Inspector-Geral do Trabalho a qualificar os contratos do pessoal docente como contratos de trabalho e a apurar quando se deve de salários aos interessados e a quanto terão direito de indemnização por despedimento.

Terceira lição: é preciso avaliar a qualidade das relações laborais, encarada como uma garantia da qualidade global das instituições e de uma efectiva autonomia em relação a interesses ilegítimos.

A proposta de Lei de Avaliação que o MCTES acaba de anunciar mostra que nenhuma destas lições foi apreendida. Designadamente, o cumprimento da legislação laboral fica fora do campo da avaliação e os Sindicatos de Professores não são considerados interlocutores do processo de avaliação.

Novas [Universidades] Independentes nos esperam.
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Paulo Peixoto é presidente da Direcção do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) e escreveu o presente artigo de opinião na edição de 4 de Abril do jornal «Público». Anteriormente já havíamos transcrito outros seus textos: «A corrosão da Universidade», «Do Minho ao Algarve: flexi-segurança [está a ser implementada] sem demora [nas Universidades]» e «Carta Aberta [do Presidente da Direcção do SNESup] a Augusto Santos Silva e a Alberto Martins».

Este "aviso" de Paulo Peixoto [relembre-se, datado de 4 de Abril passado] veio a ser plenamente comprovado por duas notícias de ontem: «[Universidade] Moderna: ministro [Mariano Gago] solicita "acção urgente" à Direcção-Geral do Ensino Superior» e «Ministério [da Ciência e Ensino Superior] retira reconhecimento de interesse público à Universidade Internacional».

1 comentário:

alfredo henríquez disse...

Continuo a insistir na situção do ISSSL e do ISSSB ambas as instituições foram transferidas para a Fundação MINERVA, sem qualquer salvaguarda dos direitos dos trabalhadores ( docentes e funcionários) e também não foi acautelada a qualidade do ensino. Mais de 80 por cento das pessoas ficaram sem empego ( incluindo professores doutores, mestres,etc )alguns dos quais continuam no desemprego.

Neste negocio fraudulento, da MInerva milhares de euros de meses de trabalho e subsídios de férias ficaram se ser pagos.
Actualmente decorrem no tribunal de trabalho dezenas de processos contra a MINERVA, fundação que tutela a Universidade Lusíada.

Uma luta que ainda decorre, apesar do ministro Mariano Gago dar por encerrada, a quando inquirido pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Comunista Portugues no parlamento.

podem consultar todo o processo

in http://resistirparaconstruir.blogspot.com/

Dezenas de queixas na Inspecção do Ensino Superior sem qualquer resultado

alfredo henríquez

professor universitário


agradeço que se ocupe deste assunto e de destaque no seu blogue